18/08/2017

Em meio a tudo, os olhos podem enxergar o que está bem...


Seis anos de Doutora Malagueta e a cada visita me surpreendo com o poder mágico do encontro. Mas, esse ano algo diferente aconteceu nos meus atendimentos... Nossa premissa de olhar o que "está bem" anda me dando umas rasteiras.
Outro dia, entrei na Unidade de Queimados e dei de cara com um menino de uns 3-4 anos no colo da mãe. Sim, ele estava todo queimado. Há seis anos vou lá. Mas, nesse dia, eu entrei e não vi os olhos brilhantes da criança, eu só vi as feridas, a dor, o sofrimento.
Disse para meu colega baixinho: não vou conseguir. E saí. Num cantinho, tentando disfarçar com minha escova expressiva, as lágrimas que borraram minha maquiagem. Em segundos fui povoada por vários pensamentos: Meus filhos! Meus filhos! Deus proteja meus filhos! Meus, meus, meus, meus...
De repente, senti uma vergonha de mim mesma. Quanto egoísmo!
Não sei se essa é a palavra...
Mas, eu estava só pensando em mim e tinha perdido a noção da minha função naquele momento... Minha função na vida. Estar a serviço. A serviço do riso, da alegria, da esperança, da generosidade...
Voltei. Olhei nos olhos daquela criança e encontrei o que havia perdido.
As crianças são tão generosas... Reencontrei a vida naquele olhar, a esperança, a beleza, o desejo de brincar, o poder de imaginar, de viajar, de criar novos mundos. Juntos brincamos, juntos saímos por alguns minutos daquele hospital e fomos para um mundo de possibilidades. Juntos celebramos a vida, a alegria.


Relato da Dra. Malagueta – Paula Bittencourt, num dia em que estava acompanhada pelo Dr. Amanito – Khalid Prestes. Já o registro é do Cristiano Prim.

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